Além do princípio de prazer

Há um antes e um depois na história da psicanálise. O divisor de águas é justamente o Além do princípio de prazer, o ensaio mais fascinante e mais desconcertante da obra de Freud. Mas, ao contrário da beleza tranquila da maioria dos escritos freudianos, o Além do princípio de prazer não se entrega ao leitor de mão beijada. Nada melhor do que a oportunidade de ler ou de reler na companhia de Gilson Iannini e Pedro Heliodoro, editor e coordenador de tradução da coleção Obras incompletas de Sigmund Freud (ed. Autêntica). Serão seis encontros de um verdadeiro mergulho neste texto fundamental.

Como pensar fenômenos como a repetição de sonhos ruins, a persistência de lembranças de experiências dolorosas, nosso fracasso em nos desvencilhar de nossos sintomas, nossa dificuldade de nos livrarmos do desprazer? Numa argumentação vertiginosa, Freud analisa experiências aparentemente desconexas, como o jogo de uma criança pequena de lançar objetos longe e às vezes recuperá-los, os sonhos traumáticos de neuróticos de guerra, a impressão de estarmos repetindo cegamente um destino que nos escapa, como  amantes que, com pessoas diferentes, passam pelas mesmas fases e chegam ao mesmo desfecho, amizades que terminam em traição ou ingratidão etc. A análise minuciosa desses fenômenos culmina com a revisão de um dos fundamentos teóricos mais centrais da psicanálise, a primazia do princípio de prazer. Não por acaso, o Além do princípio de prazer cindiu o movimento psicanalítico ao propor o conceito de pulsão de morte.