As pulsões e seus destinos

As pulsões e seus destinos não é apenas o texto de abertura do conjunto de artigos metapsicológicos, mas apresenta os contornos de um dos principais conceitos da psicanálise: a pulsão. Não é exagero dizer que a teoria das pulsões, bem como a teoria do inconsciente, é tão fundamental para os psicanalistas quanto a anatomia e a fisiologia são para os médicos.

As pulsões e seus destinos apresentam uma verdadeira súmula dos processos que fundam a especificidade da clínica psicanalítica em relação a outras formas de cura, tratamento e terapia. Que processos presidem a eleição por um sujeito de seus objetos de desejo? Como, por exemplo, o amor pode se transformar em ódio? Como um desejo por um determinado objeto pode ser obrigado a deslocar-se em direção a outro objeto? Como uma moção pulsional (agressiva ou erótica) dirigida a um terceiro pode voltar-se contra a própria pessoa? Que mecanismos presidem nossas escolhas sexuais? Neste texto, Freud apresenta o conceito de pulsão, que está na base dos processos que determinam os modos como nós amamos, desejamos, sofremos.

Assim como os destinos das pulsões são múltiplos e envolvem complexos processos de transformação, também os destinos do próprio conceito de pulsão não foram menos dramáticos. De fato, o Trieb freudiano é o conceito em que a dificuldade de tradução rapidamente se converte em disputas teóricas, etimológicas, epistemológicas e, sobretudo, clínicas. A riqueza do vocábulo alemão teve destinos diversos conforme o solo em que foi implantado.

Mas não apenas a palavra Trieb envolve riquezas e dificuldades. O vocabulário freudiano contém uma complexidade que pode passar desapercebida num primeiro momento. Isso pois ele geralmente se vale de palavras de uso corrente na cultura, mas gradativamente as reveste de um valor semântico muito específico. Nesse curso pretendemos abordar as nuances de usos e conotações envolvidas no vocabulário freudiano.

Partiremos sempre de uma perspectiva que contempla três dimensões fundamentais: a epistemológica, a linguística e, sobretudo, a clínica.